Estamos aonde? Ainda na quarta aula, não é mesmo? Estou super atrasado! Desculpem!
Começamos a aula fazendo a costumeira revisão, e nela, falamos ainda algo sobre a linguagem.
Nós lemos juntos um texto um tanto quanto pesado de Augusto dos Anjos, para ilustrar que a vida não é só feita de beleza e felicidade; o feio, o horrível e a tragédia também são eventos constituintes do nosso dia-a-dia e precisamos aprender a lidar com isso.
Augusto dos Anjos - A um carneiro morto
Misericordiosíssimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!
Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!
Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos – fontes de perdão – perdoaram!
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos – fontes de perdão – perdoaram!
Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
Se fosses Deus, no Dia do Juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!
Se fosses Deus, no Dia do Juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!
E assim vemos como a linguagem nos é útil para expressarmos nossos sentimentos negativos. Como diz o trecho do poema "Receita Para Arrancar Poemas Presos", por Viviane Mosé:
"[...]
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
[...]"
E vimos também que a linguagem é dotada de semântica. Semântica é nada menos do que o significado da palavra. A semântica estabelece uma ligação íntima entre o que sentimos, pensamos e dizemos, através da linguagem. A linguagem pode se manifestar de diversas formas, como a musical, por exemplo. Esta música se chama Moonlight Sonata (Sonata à luz do luar), composta por Beethoven.
E para que a linguagem ganhe corpo, ela é composta por sígnos. Signos são, então, os elementos que constituem a forma da linguagem. Na linguagem verbal, os signos são as letras e palavras, que ganham um significado (semântica) quando são encaixados de forma coerente.
Concluímos então, que a linguagem é o conjunto de mensagens transmitidas, contidas no significado dos sígnos que formam as palavras.
Mas vimos que um mesmo signo pode ser dotado de dois ou mais sentidos. E agora? Bom, tudo vai depender do contexto do assunto. Por exemplo, quando eu digo TORTA e TORTA. Estou me referindo à comida ou ao adjetivo?
Esses sentidos diferentes são classificados como:
Conotação: É o uso da palavra com sentido diferente do original.
Por exemplo, posso dizer "Meu coração vai sair pela boca". Não significa que o coração vai realmente sair da cavidade toráxica, romper todas as veias e artérias, invadir o esôfago e por peristalse reversa ser expulso por vômito. Significa apenas um estado de exaltação exagerada.
Denotação: É o uso da palavra com seu sentido original.
Se eu disser que "meu coração vai sair pela boca", de maneira denotativa, CORRE PRO HOSPITAL!
Michelangelo - A criação de Adão (corte) |
E se nós pararmos para refletir de uma forma ainda mais profunda sobre a linguagem, podemos ver que a linguagem é uma ferramenta criada pelo homem. E como usamos a linguagem para estudarmos o universo e desenvolvermos a ciência, de acordo com o pensamento relativista de Nietzsche e Derrida, não podemos realmente nos aproximar da verdade.
Mas apesar dos pesares colocados por estes dois filósofos, a linguagem é uma ferramenta útil para que nós compreendamos grande parte dos fenômenos universais. E compreendemos o universo com o advento da nossa razão, ou seja, da nossa capacidade de pensar ordenadamente.
Mas ao basearmos a nossa linguagem na razão, estamos excluindo automaticamente aquilo que se insere no campo da não-razão, ou seja, o irracional. Excluindo o irracional de nossa linha de pensamento, excluímos parte do mundo. Mesmo porque, nem tudo é dotado de sentido lógico (ou que consideramos lógico).
Alice no País das Maravilhas - Um elogio à loucura
Para que nossa linguagem seja bem fundamentada na razão e possua um sentido bem estruturado, nós seguimos algumas regras invisíveis de conduta. Como diria Michel Foucault, qualquer um não pode dizer qualquer coisa. E isso traduz a idéia da Ordem do Discurso, colocada por Foucault, para indicar esse conjunto de "leis" que regem a nossa linguagem. Assim, o louco é aquele que, entre outros aspectos característicos, vive às margens da ordem do discurso.
O louco, estando excluído da ordem racional da nossa linguagem, não consegue se envolver com a verdade dos fenômenos universais. Mas o que é essa verdade da qual tanto falamos? Não percam, o próximo post, "Filosofia - Sobre a quinta aula".
Ah! Feliz dia das mães!
Abraço!
Gabriel.
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